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quinta-feira, março 30, 2006

Olhos Verdes

Olhos Verdes
Teus olhos verdes...

imensidão do oceano.
Num singelo piscar,
tua negra menina,
Dos olhos...

Me afaga, consola.
Olhos vivos,

brilhantes.
Olhar sapeca,
que me toca,
E me contagia.

Teu olhar tem magia,
Malícia!
Esconde segredos,

sem precedentes,
em conluio com os lábios.

Lábios de mel, carnudos,
sedentos,
doce e tenros,
à espera do ósculo,
molhado,
quente;

Agora,
Teus olhos repousam,

êxtasiados...
Eis que se fez o conjunto,
Harmonioso!
Perfeito!

Luiz Carlos Reis

sábado, março 18, 2006

Um rolé em sampa...

Sampa, terra da garoa e da boêmia, eternizada na poesia de Caetano e nas crônicas e pornôs chanchadas de Nelson Rodrigues, do engraxate que arrisca um sambinha de uma nota só no sapato do “Doto”, dos ambulantes e meretrizes da rua Aurora... exatamente... número 69. Da população de meninos e meninas de rua que protagonizam qualquer enredo de mazela social e que imperam a praça da Sé, do vai e vem, ufa!... De pessoas, cada qual com seu destino. A cidade acorda cedo.Num giro pelo centro velho e arredores, mais precisamente na Praça da República avisto uma aglomeração de pessoas atentas e curiosas, amontoando-se umas sobre as outras, muitas atrasadas para o trabalho, hoje difícil, para assistirem ao espetáculo, entre tantos. São artistas e saltimbancos, cantadores de coco, anônimos, migrantes do árido sertão nordestino. No picadeiro do calçadão o show vai começar! O protagonista vai saltar e projetar o corpo entre um arco de facas e lanças pontiagudas, o plaqueiro se esforça para dar uma espiadela. O ator prende, persuade a platéia, o suspense toma conta do episódio, momento ideal para angariar alguns trocados, o público é solícito e sempre colabora. Mais a frente outro amontoado de pessoas, pressupõe-se um novo espetáculo, não é! Trata-se de uma liquidação, dessas, tipo baciada. Adiante, e olha que rodei bastante pela city, já bem próximo do largo do café, indiferente e sem qualquer preocupação, um mendigo dorme tranqüilamente sob a marquise de um Banco. Essa mega metrópole quatrocentona aponta para mais um dia de especulações e comércio agitados. Este é só o começo! O pastor protestante discursa, cético algumas parábolas e passagens bíblicas. Promete ajuda e a salvação se alguém aceitar a Deus, fato ou doutrina o povo às tantas anda muito sofrido, mas não deixa de ter fé. São Paulo é assim não pára! Nas ruas e avenidas congestionadas automóveis e motocicletas disputam, entre transeuntes e camelôs, cada espaço da urbe num balé frenético e ordenado. São onze horas da manhã, descompassado bateu a fome. Na placa a promoção: “CHURRASCO GREGO MAIS SUCO GRÁTIS 0,50”. Barato e engana a fome, quem nunca provou? Experimente...é muito bom!Uma “muvuca” se formou quase que de imediato na quinze de novembro, uns corriam daqui, outros dali, a fiscalização da prefeitura fazia o “rapa”. Alguns arriscavam uma fuga, às vezes, com sucesso. O show ... tem que continuar! Fico só observando. Sorrateiro o malandro encosta, dois ficam no “bizú”, como olheiros. Olha aqui, olha ali...sobre o caixote que trouxe consigo o malandro coloca três tampinhas e uma única bolinha, incrível a habilidade disposta, logo vai se formar uma rodinha de apostadores.- Olha a bolinha! Está aqui, não está! Cá está, lá se foi...Opa! Quem vai apostar? O malandro casa 50 pilas, quem apostar leva R$ 100,00 reais. Interessante! Pensei. O sujeito aposta, se vira pra tirar os R$ 50,00 da carteira e como num passe de mágica o “veiaco” some com a bolinha! Pois é ...o azarão perdeu cinquentinha.- Olha os “hôme” aí! Grita um camarada. Pura armação. Blefe! O malandro se dispersa entre o populacho. Sobrevivemos à dura realidade do cotidiano paulista, palco da cultura nacional.Entardeceu! O mendigo, agora embriagado, balbucia palavras e patavinas indecifráveis consigo, a solidão lhe impinge um amigo imaginário. A tenda circense, denotada nos calçadões centrais, aos poucos é desarvorada. Abrem-se as cortinas para o segundo ato do espetáculo, os protagonistas agora são outros, homens e mulheres travestidos, gigolôs, meretrizes, pitboys, punks e góticos, clichês do persuadido e requintado ode paulistano. A selva de pedra se destaca pelos feixes de luzes estroboscópicas de letreiros e luminosos, que adornam, agora, sua estrutura de pedra e aço. Nos becos destaque para botequins, inferninhos, lans e alternativos, mananciais dessa Ghotan City brasileira. Regida pela sinfonia desconcertante dos ruídos noturnos, a lua, velha conhecida, aparece tímida para alumiar as escusas e sombrias vielas dessa paulicéia desvairada.Nos guetos, onde imperam luxúria, requinte e status, a magia da noite paulistana é lembrada e idolatrada ,mais uma vez , nas composições dos poetas contemporâneos. Roteiro sem restrições. Ao parafrasear o trecho: “Quem tem dinheiro bota a banca e vai gastar, uísque, caviar. Quem não têm vai de bar em bar , enche a cara de cachaça e manda pendurar...” , eis o retrato insólito da boêmia brasileira. Pelo menos para mim!Enfim, aproxima-se o final de semana! – Garçom, um chope, por favor! É... ninguém é de ferro. A lua , velha companheira, de tantas... baladas para ser mais “moderninho”, brinca de esconder-se. “Mente quem diz que a lua é velha”.Desculpem-me a "viagem", mas um belo par de olhos insinua algo...Um bate papo, talvez um...- Ora deixa pra lá, isso é assunto pra uma outra história.

Luiz Carlos Reis

quinta-feira, março 16, 2006

O Lago

Olho o lago tão sereno
Parece indiferente a minha presença
Mas sinto necessidade de alguém
Molho as pontas dos dedos
Ele parece despertar ainda trêmulo
Me sauda num susurro.
É que invejo sossego
E sempre me enludo
Sou mar, revolto e em chamas
Mas como me acalmar?
Se trago em mim versos de mar.
Como fazer se não posso me calar
E passo horas a me consumir
Procuro me satisfazer entre sólido e líquido.
Também tenho medo de não me achar
E angustiado procurar por mim
Não serei nem rio, nem mar
Pois com a lua tenho encontro marcado
Sou Lago solitário irei recebê-la
No mergulho do amor profundo e raro.

Darcy Costa Almeida, Literarte - Ano XVIII, Fev/02 - no. 201

quinta-feira, março 09, 2006

Descobrimento e ...imperialismo

Os temas abordados por antropólogos e historiadores nesses 500 anos de descobrimento, traçam uma apologia retórica e concreta dessa miscelânea de valores culturais regionais e a imensurável grandeza de nossa Pátria. No entanto, diante da realidade aparente indagamos: O quê de fato estamos comemorando?Refletindo o passado e retratando alguns fatos históricos desde os primórdios da nossa colonização, deparamos com a chegada dos portugueses na costa brasileira trazendo na bagagem uma infinidade de "novas" culturas. Impulsionados pelas grandes navegações além mar, pregavam a ideologia de evangelização mundial e, já naquela época, de propensão ao lucro e a dominação.Aportaram aqui numa terra sem leis, rica e inexplorada, habitada por gente boa e inocente, que andavam nuas e gostavam de festas e música. Desprovidas de um Rei, mas guarnecidas de costumes e valores morais para com a natureza e seus entes. A terra de Santa Cruz, como foi chamada inicialmente, conheceria de perto o senhor absoluto – a Colonização. E justificaria mais tarde a fortuna na saga descobridora de portugueses e espanhóis. O paraíso transformava-se num inferno. Os habitantes, os índios, eram dizimados gradativamente, por doenças e pestes de além mar, escravizados e surrados, para arrancarem de “suas” terras, agora propriedade privada, riquezas inigualáveis. Estreitavam-se então os mitos frente à realidade da dominação colonial, fundamentar a propriedade privada, escravisar e catequizar, centrado numa educação áulica e alienada, em subordinação à elite clerical.De colônia à império numa breve passagem ao período republicano, a ditadura também deixou raízes que configuram apenas os traços monopolistas e ideológicos, voltados efetivamente para a manipulação das classes populares, fragmentando-as com o auxilio da comunicação de massa. Face aos eventuais acontecimentos históricos convém analisar, de forma apocalíptica, a realidade que nos remete para um futuro de incertezas e desigualdades, já traçadas, paralelamente, pelo nepotismo e corrupção política, aliada inconteste da exploração de nossos recursos e fontes naturais, chaga do desiquilíbrio ambiental. No âmbito social, arregimentadas pelo capitalismo espoliativo e darwinista, a desigualdade social cujo baixo índice de desenvolvimento humano, "enriquece" a nuança pintada das mazelas sociais do retrato brasileiro, revelando-se protagonista da colônia que ainda insistimos em ser.Que país é este?


Luiz Carlos Reis

terça-feira, março 07, 2006

Canto de ternura

Eu quisera ser o cisne branco
Do teu lago encantado.
Deslizar, suavemente,
Pelas águas descuidadas,
Na paz concreta
De um imenso amor.
Olhar serenamente o céu,
Todo crivadinho
De estrelas peregrinas,
E vislumbrar,
Nas linhas do horizonte,
O teu vulto amado,
Perdido na distância,
Então numa doce simbiose,
De desejo e de ternura tanta
Eu bicaria o espaço
Vazio entre nós dois,
E buscaria lá do alto
O teu sorriso calmo,
O teu olhar viril.
E trazendo de ti,
Pedaço por pedaço
Eu te teria inteiro,
Somente pra mim,
Ó meu eterno
E imortal amor!

Arita D. Petená - Literarte, Ano XVIII, Fev/02 - no. 201

sexta-feira, março 03, 2006

Conto de Carnaval

Mês de fevereiro... Verão, praia, piscina e ... Carnaval que desponta como reduto incontestável de Reis Momos, arlequins e pierrôs trazendo na bagagem muita diversão, folias e folguedos.
No norte e nordeste brasileiro, têm frevo e maracatú, no sul o contágio dos enredos e a luxúria de blocos, cordões e escolas de samba. No centro-oeste o siriri festeja a folia carnavalesca às margens do Rio Grande. Mas, é na Bahia, nordeste brasileiro, onde o carnaval fora de época, de estafantes e contagiantes blocos e trios elétricos, compõe o cenário da festa tupiniquim. Para os festeiros de plantão, diversão garantida, para outros tragicomédia.
Doutor Zulmiro, solteirão convicto, no auge dos seus quarenta e poucos anos, boa forma física ensaiava, a caráter, alguns passos e marchas carnavalescas, não queria fazer feio. Precavido preparou tudo às vésperas. Passagens e reservas com destino à Salvador. No aeroporto o desabafo:
- Dane-se! Dane-se tudo...a patética situação econômica e política da Argentina, os entraves políticos no Brasil, a febre aftosa, FHC e sua corja, as eleições .. O que importa nesse momento é curtir o carnaval...esquindô lê lê! Esquindô lá lá – gesticulava com os dedos em riste.
A ansiedade e a expectativa tomavam conta daquele “tiozinho”. Haja coração! Quanta mulher bonita e “gostosa”, pensava Zulmiro. Na praça Rui Barbosa, o público apinhado e gigantesco, pulava freneticamente. No meio da ror, estava Zulmiro... ê Zulmirão! Curtia como um chicleteiro, numa empolgação alucinada. O calor exalava os mais diversos odores de “sovaco”, mistura de gente, suores, purpurina e confetes. A bebida predileta, uma tal de “capeta”, à base de vodka, guaraná em pó e canela, esquentava ainda mais e, haja água pra hidratar e agüentar o embalado carnaval fora de época do nordeste.. e olha que tem folia pra muitos dias.
E nossas mulheres...que belas obras na mãe natureza! Morenas ou loiras, tropicanas e calientes, beldades brasileiras de curvas sinuosas em minúsculas roupas. Insinuando, provocando, rebolando as cadeiras e instigando as mais loucas fantasias daquele quarentão, ao som da banda Chiclete com Banana.
Empolgou-se! Viajou na maionese! Não soube precisar de onde veio o pescoção... uma... raquetada, para ser mais exato!
O tapa foi tão forte que Zulmiro despencou e estatelou-se no chão. Caído, foi pisoteado e “atropelado” pela multidão fanática que cantava o refrão: “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”.
Na Santa Casa de Salvador, as ataduras que cobriam o corpo de Zulmiro, davam-lhe um aspecto de “múmia egípcia”. No ouvido persistia o zumbido da bofetada, que quase lhe estourou os tímpanos. Na televisão...o Big Brother da reeleição...é Lula lá.. - Paz e amor! De novo! Nas lembranças de Zulmiro o carnaval não acaba na quarta-feira de cinzas... termina antes! Certamente a mulher do próximo não é colírio para os olhos! E... tudo começa outra vez, eis que o samba... é de uma nota só!



Luiz Carlos Reis