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sexta-feira, outubro 06, 2006

Minha Dama...


Linda flor!
Dama da Noite...
Diva que perfuma e encanta
com tua beleza recôndita...
Pura...Subversiva... Lunática!
De extênuante harmonia...
Platônica!
Desejo-te...

Quando já não é mais noite...

Eleva-te num intenso monolítico,
linda flôr de Amarilis...
Deslumbrante açucena de Virgílio!
Roturastes teu orgulho!
Os corpos se atraem em quereres,
A tensão aumenta...
O beijo!
Que arde e comprime as palavras...
misturam-se os fluídos
Sacia o desejo.
Sinta-o sublime...
à tua essência.

Luiz Carlos Reis

segunda-feira, outubro 02, 2006

Conto sertanejo

Mais um conto da fábula brasileira, talvez uma mostra singela do quadro conjuntural e social do país que sobrevive voraz às mazelas fundadas sob a égide do capitalismo espoliativo. De ações nada significativas, porém, extremamente imperialistas, que impõe aos países emergentes e de primeiro mundo, um produto atrasado e retrógrado: o subdesenvolvimento. Obviamente não ousaria falar de comunismo ou socialismo numa época em que conflitos entre direita e esquerda, permanecem escusos em castas pragmáticas, doutrinadas por partidos de extrema. Mutáveis, céticos vestidos com a indumentária da moralidade demagoga e utópica.
Retórica crônica ... Sim! Começa pelo indivíduo, doravante designado cidadão ou qualquer que seja a alcunha, que desde o nascimento merece um nome, uma certidão natural, direito jurídico legal e constituído, entre tantos outros que "não" lhe são assegurados mas subtraídos, apresento-lhes José, ainda sem nome, claro, porém, corroborando para o crescente quadro natalício brasileiro, estimado em 180 milhões de cidadãos.
Redundante suponho, mas compõe fielmente as estatísticas dessa miscigenada nação tupiniquim.
Na cabeça dos pais do pequeno menino a aflição. Mais um nordestino, mais um sertanejo sofredor, vivendo às duras penas na caatinga. Sem brasão ou ascendentes ricos, mas estabelecidos e familiarizados com a miséria e os piores índices de desenvolvimento humano. Excluídos! Pobres ou miseráveis? Para os progenitores do pequeno menino, não importavam as estatísticas, queriam o melhor para seu rebento.
Relembro a velha utopia da migração nordestina: aquela de tentar a vida na cidade grande.
O pirralho nasceu de parto parido, melhor com parteira. A dita cuja tinha muita experiência, um currículo invejável à muito obstetra da capital, quantas raparigas haviam passado por aquelas mãos de unhas micosadas e calejadas pelo cabo da enxada. No rosto a expressão carcomida, enrugada, sofrida pelo tempo que o sertão impõe de sol-à-sol. Estereótipo clássico do sertanejo sofrido. O menino, nasceu miúdo, muito minguado e raquítico, dava dó, era pele e osso, parecia que nem respirava. A mãe olhava aturdida ...Falaciosa. Sequer tinha leite para amamentar o moleque. Misturavam água do açude, meio barrenta, ao pouco leite que ordenhavam de uma velha cabrita... Para completar a ração. O pasto seco do chão de terra batida e esturricada, a palma que impregnava a vegetação mórbida do local, não venciam a fome do pobre caprino. Foram dias difíceis para a família de José! Não demorou muito e a coitada virou comida. No sítio, de nome "enjeitado", não havia luz elétrica, nem água encanada, contentavam-se com a água barrenta do açude. Uma realidade nacional em pleno século 21. Mas o sertanejo é forte e fervoroso não se importa com a tecnologia. Sua vida é trabalhar para comer, sair da míngua, sonhar com a vida na cidade grande, dar condições à sua descendência e casta. Quer um trabalho que o dignifique... Triste ilusão!
Mas a coragem não lhes faltam. A luta é constante.

Do árido sertão ficaram as lembranças e a saudade. Da casa de pau à pique e da pequena horta... Esturricada, não levaram nada.
O sonho da cidade grande era maior e romperia qualquer fronteira. Deixaram o "sítio enjeitado" e embarcaram no último pau-de-arara. À frente... O sonho e uma realidade sucumbida pelo descaso.


Luiz Carlos Reis