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quinta-feira, março 16, 2006

O Lago

Olho o lago tão sereno
Parece indiferente a minha presença
Mas sinto necessidade de alguém
Molho as pontas dos dedos
Ele parece despertar ainda trêmulo
Me sauda num susurro.
É que invejo sossego
E sempre me enludo
Sou mar, revolto e em chamas
Mas como me acalmar?
Se trago em mim versos de mar.
Como fazer se não posso me calar
E passo horas a me consumir
Procuro me satisfazer entre sólido e líquido.
Também tenho medo de não me achar
E angustiado procurar por mim
Não serei nem rio, nem mar
Pois com a lua tenho encontro marcado
Sou Lago solitário irei recebê-la
No mergulho do amor profundo e raro.

Darcy Costa Almeida, Literarte - Ano XVIII, Fev/02 - no. 201

quinta-feira, março 09, 2006

Descobrimento e ...imperialismo

Os temas abordados por antropólogos e historiadores nesses 500 anos de descobrimento, traçam uma apologia retórica e concreta dessa miscelânea de valores culturais regionais e a imensurável grandeza de nossa Pátria. No entanto, diante da realidade aparente indagamos: O quê de fato estamos comemorando?Refletindo o passado e retratando alguns fatos históricos desde os primórdios da nossa colonização, deparamos com a chegada dos portugueses na costa brasileira trazendo na bagagem uma infinidade de "novas" culturas. Impulsionados pelas grandes navegações além mar, pregavam a ideologia de evangelização mundial e, já naquela época, de propensão ao lucro e a dominação.Aportaram aqui numa terra sem leis, rica e inexplorada, habitada por gente boa e inocente, que andavam nuas e gostavam de festas e música. Desprovidas de um Rei, mas guarnecidas de costumes e valores morais para com a natureza e seus entes. A terra de Santa Cruz, como foi chamada inicialmente, conheceria de perto o senhor absoluto – a Colonização. E justificaria mais tarde a fortuna na saga descobridora de portugueses e espanhóis. O paraíso transformava-se num inferno. Os habitantes, os índios, eram dizimados gradativamente, por doenças e pestes de além mar, escravizados e surrados, para arrancarem de “suas” terras, agora propriedade privada, riquezas inigualáveis. Estreitavam-se então os mitos frente à realidade da dominação colonial, fundamentar a propriedade privada, escravisar e catequizar, centrado numa educação áulica e alienada, em subordinação à elite clerical.De colônia à império numa breve passagem ao período republicano, a ditadura também deixou raízes que configuram apenas os traços monopolistas e ideológicos, voltados efetivamente para a manipulação das classes populares, fragmentando-as com o auxilio da comunicação de massa. Face aos eventuais acontecimentos históricos convém analisar, de forma apocalíptica, a realidade que nos remete para um futuro de incertezas e desigualdades, já traçadas, paralelamente, pelo nepotismo e corrupção política, aliada inconteste da exploração de nossos recursos e fontes naturais, chaga do desiquilíbrio ambiental. No âmbito social, arregimentadas pelo capitalismo espoliativo e darwinista, a desigualdade social cujo baixo índice de desenvolvimento humano, "enriquece" a nuança pintada das mazelas sociais do retrato brasileiro, revelando-se protagonista da colônia que ainda insistimos em ser.Que país é este?


Luiz Carlos Reis