Tenho a mão pesada ao escrever poemas. Abro, no papel, profundos sulcos, tipo leito de um rio, por onde navegam palavras, pensamentos, histórias, coisas colhidas nas trilhas desta vida. Não acaricio as palavras, espremo-as, até ter delas seu sumo, seus significados. Uso cores agressivas, por vezes exuberantes, quando tento passar uma mensagem. Quando falo de saudade prefiro o cinza, nostalgia em branco e preto e a revolta em águas barrentas, sempre! Estou mais para realidade, a vida me fez assim!
Tenho a mão pesada aos escrever poemas, machuco o papel, até perceber que alí existe sangue, suor, saliva, sentimento, não sei escrever sem expor feridas. Parir versos é remexer nas entranhas, é cutucar cicatrizes, fazê-las ardidas, só assim o poema sobrevive e eu consiigo exorcizar minha dor.
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Naldo Velho, Literarte, ano XXII, nº 264, Fev/2007