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sexta-feira, março 03, 2006

Conto de Carnaval

Mês de fevereiro... Verão, praia, piscina e ... Carnaval que desponta como reduto incontestável de Reis Momos, arlequins e pierrôs trazendo na bagagem muita diversão, folias e folguedos.
No norte e nordeste brasileiro, têm frevo e maracatú, no sul o contágio dos enredos e a luxúria de blocos, cordões e escolas de samba. No centro-oeste o siriri festeja a folia carnavalesca às margens do Rio Grande. Mas, é na Bahia, nordeste brasileiro, onde o carnaval fora de época, de estafantes e contagiantes blocos e trios elétricos, compõe o cenário da festa tupiniquim. Para os festeiros de plantão, diversão garantida, para outros tragicomédia.
Doutor Zulmiro, solteirão convicto, no auge dos seus quarenta e poucos anos, boa forma física ensaiava, a caráter, alguns passos e marchas carnavalescas, não queria fazer feio. Precavido preparou tudo às vésperas. Passagens e reservas com destino à Salvador. No aeroporto o desabafo:
- Dane-se! Dane-se tudo...a patética situação econômica e política da Argentina, os entraves políticos no Brasil, a febre aftosa, FHC e sua corja, as eleições .. O que importa nesse momento é curtir o carnaval...esquindô lê lê! Esquindô lá lá – gesticulava com os dedos em riste.
A ansiedade e a expectativa tomavam conta daquele “tiozinho”. Haja coração! Quanta mulher bonita e “gostosa”, pensava Zulmiro. Na praça Rui Barbosa, o público apinhado e gigantesco, pulava freneticamente. No meio da ror, estava Zulmiro... ê Zulmirão! Curtia como um chicleteiro, numa empolgação alucinada. O calor exalava os mais diversos odores de “sovaco”, mistura de gente, suores, purpurina e confetes. A bebida predileta, uma tal de “capeta”, à base de vodka, guaraná em pó e canela, esquentava ainda mais e, haja água pra hidratar e agüentar o embalado carnaval fora de época do nordeste.. e olha que tem folia pra muitos dias.
E nossas mulheres...que belas obras na mãe natureza! Morenas ou loiras, tropicanas e calientes, beldades brasileiras de curvas sinuosas em minúsculas roupas. Insinuando, provocando, rebolando as cadeiras e instigando as mais loucas fantasias daquele quarentão, ao som da banda Chiclete com Banana.
Empolgou-se! Viajou na maionese! Não soube precisar de onde veio o pescoção... uma... raquetada, para ser mais exato!
O tapa foi tão forte que Zulmiro despencou e estatelou-se no chão. Caído, foi pisoteado e “atropelado” pela multidão fanática que cantava o refrão: “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”.
Na Santa Casa de Salvador, as ataduras que cobriam o corpo de Zulmiro, davam-lhe um aspecto de “múmia egípcia”. No ouvido persistia o zumbido da bofetada, que quase lhe estourou os tímpanos. Na televisão...o Big Brother da reeleição...é Lula lá.. - Paz e amor! De novo! Nas lembranças de Zulmiro o carnaval não acaba na quarta-feira de cinzas... termina antes! Certamente a mulher do próximo não é colírio para os olhos! E... tudo começa outra vez, eis que o samba... é de uma nota só!



Luiz Carlos Reis

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